Frei Humberto
Os bichos só escapavam à arma de Frei Humberto, se fosse esse o seu desejo. Tal como a avó Hermínia, nascera com olho de caçador, embora o coração se assemelhasse ao de um santo. Bastavam os animais irem acompanhados pela família para Humberto se recusar a atirar. Matar o bicho, a sangue frio, com os respectivos machos, fêmeas ou crias a assistir, ultrapassava o simples acto de caçar.
Mas era num mundo distante dos javalis, veados, lebres ou perdizes que as suas qualidades mais se destacavam: com um simples olhar, Frei Humberto conseguia caçar virtudes humanas escondidas, em gente com o corpo cheio de maldade. Esse dom levara-o a conhecer os piores malfeitores de toda a região, como ladrões de mendigos famintos. Antes do último suspiro, não havia condenado que não suplicasse a sua presença. Partiam assim na esperança de serem recebidos no Céu. Mas Deus Nosso Senhor há muito tinha tratado de os instalar. Bem longe.
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