Frei Pedro
Nunca um pescador se tornara tão famoso como o velho habitante do convento que vivia rodeado de pincéis, telas e aguarelas. No rio, junto ao edifício sóbrio e imponente, todos os que vestiam escamas desejavam ser caçados por aquele estranho frade. Não era de admirar. Sabiam que, mais tarde ou mais cedo, iam cair na cana de alguém e com o frade-artista tinham a possibilidade de perpetuar a sua existência numa cobiçada obra de arte. O irmão pescador não tirava peixe do rio para matar a fome, satisfazer a gula ou comercializar a mercadoria. Mas sim para desenhar trutas, enguias e percas com o mesmo empenho com que Leonardo da Vinci pintou a Mona Lisa.
A publicidade boca a boca sempre foi a mais eficaz e as aguarelas de Frei Pedro tornaram-se um excelente anzol na angariação de fundos para as ações de caridade. Aos leilões, organizados pelo convento, compareciam os mais exigentes coleccionadores. E ali só faziam uma exigência: regressar a casa com uma tela assinada por “Frei Pedro – O pescador”. No mundo das artes, as suas telas eram peixe-graúdo.